Índios
em liberdade
Charles
Ferreira dos Santos
Temos uma tribo de indígenas que vive
isoladamente no meio da mata amazônica. Informações dão conta que se desviou um
tanto de sua vasta região de origem, tendo em vista o desmatamento e a
consequente escassez de recursos para sua sobrevivência.
A pesquisa de campo se levada a efeito
com base no método etnográfico, qual seja, a observação participante, a
inserção do observador no modo de vida do nativo, permitiria conhecer mais profundamente
a mentalidade dessa cultura. Em se conhecendo diferentes modos humanos de vida,
abre-se caminho para uma visão de mundo mais sábia. Ora, teríamos aí as
vantagens da pesquisa de campo na aludida tribo isolada da mata amazônica.
Pois, se temos essas largas vantagens,
haveria algumas desvantagens? É certo que sim. Deixando claro que não se
considera desvantagem o risco de aproximação, face o grau de periculosidade da
tribo.
As desvantagens situam-se sob o ponto
de vista dos silvícolas. Então, vejamos: é grande a chance de o homem
civilizado transmitir vírus aos nativos, cujos organismos não apresentam defesa
imunológica. Risco de uma epidemia, como tantos registros na história. Se isso não bastasse, o contato com
uma cultura tão distante de nossa realidade, com valores tão diversos dos nossos,
digamos assim, em nada beneficiaria o grupo.
Servirão de estudos, objetos de
curiosidade para a civilização, como o próprio vídeo, ao mostrar os guerreiros
indígenas lançando flechas no pássaro gigante, entretenimento para
antropólogos, linguistas, sociólogos. Mas que absolutamente nada poderão dar em
troca. Todo o contato com o homem branco será pernicioso, ou não? Jamais serão
colocados no mesmo nível. Aliás, há algo que o civilizado poderia dar a eles,
mas ele já tem, que é a liberdade. A liberdade de poderem traçar seu próprio
destino.
Partindo da ideia que somos todos
aprendizes, observar uma tribo assim tão diferente de nossa cultura, mais do
que nunca, há necessidade de perscrutar seu ethos cultural sem
violentá-lo, olhar de um jeito pluralista. Ou seja, olhar com vontade de dar e
de receber, policiar-se de tal modo a impedir a transculturação, que é a face do etnocentrismo. Mas ainda
assim, olhar a distância, sem inserir-se naquela comunidade, com a ideia de
ajudar, se absolutamente necessário ou em situações de risco de sobrevivência.
Se é certo que o homem é um
ánthropos no sentido de ser todo aquele que cresce, ao contrário do
áthropos, o ser atrofiado, então é possível imaginar que um dia chegaremos a ser profissionais pluralistas,
que poderemos respeitar a diversidade, tolerar as diferenças. Entender que não
somos iguais, mas que as diferenças não significam inferioridade ou
superioridade, e sim um outro jeito de ser. Cada povo tem seu ethos
cultural, sua maneira particular de viver. A Antropologia Cultural
pode nos ajudar a imaginar que isso é possível.
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